CANTO DOS EXILADOS

Arnau, Frank


(Heinrich Schmitt)
Escritor e jornalista
Viena 7.4. 1894 - Munique 11.2. 1976
No Brasil, de 1939 a 1955


Durante sua permanência, publicou sete romances policiais, traduzidos para o português e para o francês. Seu espólio está no arquivo literário em Marbach. Arnau foi uma das figuras mais notórias e controvertidas do história do exílio. Nascido Heinrich Schmitt, filho de pais suíços, solicitou a mudança de nome em 1930, após publicar 11 livros com o pseudônimo de Frank Arnau. Em 1919, obteve a cidadania alemã. Iniciou sua carreira jornalística e de escritor em 1912 com reportagens policiais, estendendo-se depois para o campo do cinema, do teatro e das relações públicas. Trabalhou em vários jornais e revistas, também como roteirista e, ao mesmo tempo, como consultor financeiro na República de Weimar. Arnau se impôs sobretudo no gênero do romance policial. Até 1970, seus livros venderam 1,4 milhão de exemplares. Como opositor do nacional-socialismo, atravessou a fronteira em 1933 e fugiu para a Holanda. Seguiram-se anos agitados no exílio – na Espanha, onde Arnau viveu três anos, na França, na Holanda e na Suíça. Os seis anos do exílio europeu foram caracterizados por uma luta acirrada contra o nacional-socialismo, cujo ponto culminante foi a publicação de seu romance Die braune Pest (A peste marrom) em capítulos no jornal Volksstimme de Saarbrücken, em 1934. Em 1934, foi expatriado e o seu patrimônio, confiscado. Devido aos seus artigos na imprensa francesa sobre o rearmamento alemão e a propaganda nazista no exterior, Arnau era constantemente vigiado por agentes da Gestapo e ameaçado de sequestro e morte. Arnau chegou ao Brasil em 28 de maio de 1939 – segundo ele, convidado pelo governo Vargas, informação que nunca foi comprovada. Apesar de anti-nazista, Arnau publicou artigos em português no jornal A Noite, simpático ao governo. Além disso o chefe do Departamento de Imprensa e Propaganda, Lourival Fontes, concedeu-lhe o status de jornalista, o que era ilegal, uma vez que só brasileiros podiam exercer essa atividade. Arnau, que entrou no Brasil como cidadão suíço, viveu no Rio de Janeiro com sua primeira mulher e sua filha, trabalhando para vários jornais como colaborador, entre outros, o Correio da Manhã. Mas sua principal fonte de renda era sua atividade de conselheiro da Embaixada Britânica e, a partir de 1942, da Embaixada dos Estados Unidos. Havia suspeitas de que Arnau era um espião inglês ou alemão, ou um agente duplo. Seus trabalhos cartográficos tiveram importância especial para os jornais brasileiros. Ele desenhava mapas dos cenários de guerra e sobre a retirada alemã. Depois da guerra, Arnau fundou uma oficina para impressões de luxo, a Artes Gráficas Arnau. Viajou também quatro vezes para a Alemanha como correspondente especial de jornais brasileiros e reatou sem dificuldades seus contatos com o grande capital alemão que ressurgia, oferecendo consultoria e facilitando-lhe o acesso ao Brasil devido às suas relações com círculos do governo e com industriais. Após seu retorno à Alemanha, Arnau trabalhou na revista Stern como redator. Ali continuou sua carreira controvertida como repórter especialista em desmascarar escândalos, como o caso do presidente da república Heinrich Lübke. Este declarara nunca ter tido nenhuma participação na instalação de campos de concentração, e Arnau o desmascarou em suas reportagens. Arnau tinha os melhores pré-requisitos - domínio de idiomas (francês, espanhol e finalmente português), habilidade em se adaptar à mentalidade brasileira e também experiência jornalística - para alcançar sucesso profissional no Brasil. Sua autobiografia revela sua falta de interesse com o destino dos demais exilados, os quais nem sequer são mencionados. Um deles exilados, o padre Paulus Gordan, que também viveu no Brasil, formulou uma opinião esclarecedora sobre Arnau: “Arnau foi uma figura glamurosa, protagonista de seu próprio romance.”

Fontes: Izabela Maria Furtado Kestler, Exílio e Literatura, São Paulo: Edusp, 2003; https://krimilexikon.de/arnau.htm.