Viena, 1869 — Rio de Janeiro, 1951 / Viena, 1908 — Rio de Janeiro, 2001
Irmão de Friderike Zweig e seu filho Ferdinand Burger
Restaram poucas informações sobre o irmão mais velho de Friderike Zweig, Rudolf, nascido em Viena em 1866. A primogenitura passou a Siegfried, por quem o cunhado Stefan tinha especial estima e com quem mais conviveu. Não era titulado, mas alto funcionário do Ministério dos Transportes austríaco, o mesmo onde o irmão jurista, Karl Burger (1874-1944), tinha o honroso cargo de Conselheiro.
A irmã Leopoldine, Poldi, depois de casada adotou o sobrenome do marido, Mediansky, e emigrou para os EUA.
Os pais, Emanuel e Theresia Burger, nascidos em 1844, eram provavelmente parentes (seus pais têm o mesmo sobrenome). Ele certamente judeu, ela possivelmente católica, educaram os filhos, no entanto, longe das religiões. Em 1905, com 23 anos, Friderike converteu-se ao catolicismo, seguindo o primeiro marido, Felix von Winternitz (convertido em 1901). Na ocasião adotou o nome do meio, Maria, tornando-se devotada católica.
Em 1938, quando Hitler anexou a Áustria e começaram as brutalidades racistas, uma das primeiras medidas discriminatórias foi obrigar os judeus do sexo masculino a acrescentar ao nome a identidade genérica “Israel”. As mulheres tiveram que adotar “Sara”.
Com estes nomes, Siegfried Ludwig Israel Burger e Clarisse Franziska Sara Burger entraram no Brasil em abril de 1940, a bordo do “Oceania”. Conseguiram o visto permanente de residência graças à carta de chamada solicitada pelo filho, Dr. Ferdinand Burger, desembarcado como cidadão austríaco, portanto antes da Áustria ser integrada ao Reich alemão.
Há indícios de que Zweig teria acionado os seus amigos do Itamarati para apressar a tramitação do visto dos cunhados já que consta nos respectivos papeis o número do telegrama que o Ministério do Exterior expediu para o consulado em Viena.
Ferdinand, o filho de 32 anos, tem o título de Doutor, mas na documentação aparece como “empregado comercial”. Consta que trabalhava para a filial brasileira de uma grande empresa internacional.
Viviam bem, em casas separadas, em bairros de elite: um na rua Faro, Jardim Botânico, o outro na rua Domingos Ferreira, Copacabana. A anotação de Zweig na agenda é confusa.
Stefan manteve boas relações com toda a família Burger, especialmente os sobrinhos de Friderike que viviam em Nova York. Estreitou-as com Siegfried quando soube que estava no Rio. Há pelos menos duas cartas que escreveu ao cunhado em agosto de 1940 e novembro de 1941. Na última lamenta o constrangimento do cunhado e do sobrinho em visitá-los em Petrópolis. Em plena depressão demonstra um afeto incomum.
Não menciona a ex-cunhada, Clarisse Franziska (1880-1957). Não se sabe se Ferdinand casou, sabe-se apenas que viveu até os 93 anos.
Na véspera do suicídio, ao decidir o destino dos poucos bens pessoais, Stefan colocou num envelope endereçado a Ferdinand as suas jóias pessoais, inseparáveis: o relógio de ouro, o anel do dedo mínimo com um diamante encravado e também as abotoaduras. Certamente destinavam-se à tia. Nas “instruções privadas” ao editor Koogan, determinou que entregasse a Friderike, depois da guerra, por intermédio de Ferdinand, o valioso manuscrito do lied de Mozart, “Das Veilchen” [A Violeta], um dos remanescentes da sua celebrada coleção de autógrafos. Koogan obedeceu e Ferdinand deixou com ele um recibo manuscrito, hoje no acervo da Biblioteca Nacional do Rio. Divorciado e fiscalizado pelo irmão de Lotte, Manfred Altmann, Stefan jamais esqueceu sua primeira mulher, confidente até os derradeiros instantes.
Endereço na Agenda: [Ferreira/ Rua Domingos, Copacabana, 187, Rio – riscado] Rua Faro 38, (Jardim Botânico) Apt. 202 Telephon Ferdinand 23-1670