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![]() Flusser, Vilém ![]() Filósofo, professor, escritor Praga, 12.5. 1920 – Praga, 28.11. 1991 No Brasil, de 1940 a 1972 Segundo a amiga e discípula Maria Lília Leão, para Flusser, filosofar significava “criar o espanto”. Um dos mais importantes intelectuais que trabalharam em solo brasileiro, Flusser cresceu em Praga numa época em que a cidade, cosmopolita, abrigava as culturas tcheca, alemã e judaica. Por isso, teve duas línguas maternas: tcheco e alemão. “Era natural ter duas línguas maternas, a tcheca e a alemã, deslizar inconscientemente de uma para outra e assim participar espontaneamente de dois mundos, o europeu ocidental e o oriental. A profunda diferença estrutural entre esse idioma eslavo e o alemão (...) não era percebida como diferença, e sim como complemento. Pensava-se espontaneamente nas duas categorias, para outros absolutamente irreconciliáveis. Espontaneamente, pois assim era a forma de pensar dos nascidos em Praga.” Tendo começado a estudar filosofia na Universidade de Praga em 1939, logo em seguida, Flusser fugiu para Londres com a noiva, Edith Barth. Quando as tropas nazistas invadiram a Tchecoslováquia em março de 1939, o pai de Flusser foi preso e espancado até a morte no campo de concentração de Buchenwald. A mãe e a irmã foram assassinadas em Auschwitz. Após a queda da França em junho de 1940, Flusser e a noiva conseguiram vistos para o Brasil, para onde viajaram em agosto de 1940. Casaram-se no Rio de Janeiro, em janeiro de 1941. Em São Paulo, Flusser trabalhou como uma espécie de diretor da fábrica de transformadores do sogro, para a qual atuava também como representante comercial. Concomitantemente, prosseguiu seus estudos filosóficos até abandonar de vez a carreira comercial no fim dos anos 50, quando consegue entrar em contato com pensadores brasileiros, como Vicente Ferreira da Silva e Miguel Reale. A partir de então participou ativamente do Instituto Brasileiro de Filosofia e começou a publicar na revista do Instituto assim como a dar cursos e proferir palestras. Em 1957 foram publicados seus primeiros ensaios sobre filosofia da linguagem. Flusser foi professor a partir de 1959 de filosofia da ciência na Escola Politécnica de São Paulo. Além disso, deu cursos de teoria da comunicação e humanidades na Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Álvares Penteado, de filosofia da linguagem no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) em São José dos Campos (SP) e também de comunicação estética na Escola Superior de Teatro e Cinema da USP. A partir dos anos 60 passou a contribuir regularmente com ensaios para o Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo. Publicou em português as seguintes obras: Língua e realidade (1963); A história do diabo (1965); Da religiosidade (1967). Mais tarde, já vivendo fora do Brasil, publicou aqui: Natural:mente (1979) e Pós-história (1982). Nos anos 1960, Flusser recebeu o título de professor da Universidade de São Paulo. A partir de 1966, Flusser viajou seguidas vezes à Europa e aos EUA para proferir palestras e também como membro curador a serviço da Fundação Bienal de Artes. Em função da radicalização da ditadura militar a partir de dezembro de 1968, as palestras de Flusser nas universidades passam a ser espionadas pela polícia política. De 1969 a 1971, Flusser publicou uma coluna no jornal Folha de S. Paulo, intitulada Posto Zero, a qual continha ataques frontais à ditadura. A coluna foi censurada em 1971 e Flusser, dispensado do jornal. Segundo Edith Flusser, foram essas as razões que levaram ambos a retornar à Europa. Em 1972, o casal deixou o Brasil, fixando-se em Merano, na Itália, e algum tempo depois na pequena aldeia de Robion, no sul da França. A segunda fase da carreira acadêmica e filosófica de Flusser começou a partir do retorno à Europa. Até morrer num acidente de trânsito em sua cidade natal, em 1991, Flusser foi presença constante em congressos e em revistas de filosofia, de estética da comunicação, de teoria da informação e de teoria do discurso. Tornou-se conhecido sobretudo na Alemanha com a publicação das seguintes obras: Für eine Philosophie der Photographie (1983); Ins Universum der technischen Bilder (1985); e Die Schrift (1987). A matriz filosófica da qual se nutriam as reflexões de Flusser foram as diferentes correntes alemães da fenomenologia. Enquanto na Europa sua obra vem sendo sistematicamente reeditada, o filósofo foi praticamente esquecido no Brasil após seu retorno à Europa. A maior parte das informações biográficas provém de uma carta da viúva de Flusser, Edith Flusser, de 7 de julho de 1993, da autobiografia de Flusser Bodenlos. Eine philosophische Autobiographie (Düsseldorf, Bensheim: Bollmann Verlag, 1992) assim como de entrevistas realizadas em São Paulo em 20 de dezembro de 1993 com dois amigos de Flusser no Brasil, Maria Lília Leão e Milton Vargas, e com o ensaísta, poeta e professor Haroldo de Campos. Fonte: Izabela Maria Furtado Kestler, Exílio e Literatura, São Paulo: Edusp, 2003. ![]() |