CANTO DOS EXILADOS

Ballhausen, Günther


Jornalista
Berlim 21.1. 1912 - Frankfurt 27.9. 1992
No Brasil, de 1936 a 1960


As informações a seguir se originam de uma entrevista realizada por Izabella Kestner em 14/10/1989, em Frankfurt. Ballhausen estudou Direito, mas logo se voltou para o jornalismo. Foi colaborador da Imprensa Ullstein e estagiário do jornal Deutsche Zeitung. Foi preso em 1933 por ser membro da Liga de Direitos Humanos. A partir de 1936, foi secretário de redação do Deutsches Nachrichtenbüro (Escritório de imprensa alemã). Em 1937, aproveitando viagem de férias, conseguiu escapar para o Brasil. “Eu queria sair da Alemanha de qualquer jeito. Sabia que a guerra iria acontecer. Escrevi ao comando militar pedindo licença para deixar o país. Fui lá com um jornal nazista em mãos, dizendo que pretendia fazer uma viagem de estudos de oito semanas ao Brasil. Acabei conseguindo a permissão”. No início, trabalhou no Rio de Janeiro em um jornal alemão que já aderira à linha nazista, o Deutsche Rio-Zeitung. Em 1941, esse periódico foi fechado por força das leis de nacionalização. Depois, fez de tudo, principalmente venda de livros em escritórios do centro e corretagem de anúncios. “Vivi disso durante alguns anos.” Às vezes, Ballhausen escrevia artigos para o jornal O Globo. Como os demais exilados, teve grandes dificuldades em converter seu visto de turista em um visto permanente. “Os jornais anunciavam escritórios que se ofereciam para fazer isso. A maioria era gerenciada por vigaristas. Muitos perderam dinheiro e o passaporte com eles.” Ao descrever as condições de vida dos exilados no Rio de Janeiro, Ballhausen costumava destacar a importância das pensões, primeira moradia para muitos. Ele cita a pensão Caminer, dirigida por um casal de judeus de mesmo nome, a qual era, na sua opinião, o centro da imigração alemã no Rio de Janeiro. “Centenas de pessoas vinham à pensão - pintores, artistas e assim por diante. Os judeus faziam até um cabaré.” Ballhausen não pertenceu a nenhuma organização antifascista, mas recorda-se com exatidão, que havia no Rio de Janeiro adeptos das organizações Das Andere Deutschland (A outra Alemanha) de Buenos Aires e da Freie Deutsche (Alemães Livres) do México. “As organizações antifascistas eram inúteis. Para que organizações? Por que? A gente se encontrava de qualquer modo.” Em 1949, após a guerra, Ballhausen assumiu a redação do suplemento para o Rio de Janeiro do recém- criado Deutsche Nachrichten de São Paulo. Um ano mais tarde rompeu com o Deutsche Nachrichten, provavelmente por razões políticas. Ballhausen registrou o suplemento como Página do Rio. “Era uma firma de um homem só. Não existia uma equipe de colaboradores. Era difícil conseguir papel (...) A Página do Rio era lida pelos imigrantes e pelos alemães, que ficavam indignados. Eu não tinha papas na língua e, por isso, o suplemento era um jornal de luxo (...) Sem exagerar, posso afirmar que o suplemento era o único jornal que se mantinha sempre atualizado.” Em agosto de 1952, o jornal foi transformado, por falta de papel e após circular de forma irregular duas vezes por semana, numa revista mensal. “Começou com uma edição de 12 mil exemplares.” Entre os colaboradores estavam Frank Arnau, Richard Katz e Ernst Feder. O jornal tinha uma apresentação atraente com ilustrações, fotos e desenhos em quadrinhos. Ballhausen informou que todo o acervo do jornal encontra-se na Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro. Ballhausen teve que encerrar a publicação do jornal devido aos altos custos financeiros. Em 1960, ele retornou à Alemanha, onde trabalhou como correspondente internacional do jornal O Globo e do Deutsche Zeitung de São Paulo, e também para o Frankfurter Rundschau.


Fonte: Izabela Maria Furtado Kestler, Exílio e Literatura, São Paulo: Edusp, 2003.