CANTO DOS EXILADOS

Lustig-Prean, Karl von


Diretor de teatro, jornalista
Prachatitz/Böhmerwald
20.1. 1982 – Viena 22.10. 1965
No Brasil, de 1937 a 1948


Paralelamente à atividade de diretor de teatro, Lustig-Prean atuou como jornalista, no fim da 1ª Guerra Mundial como redator do jornal nacionalista Deutsches Volksblatt e, mais tarde, como membro da direção do partido social-cristão alemão na Tchecoslováquia. Lustig-Prean não esteve propriamente exilado até 1937, pois vivia em Viena e em Praga, onde era redator chefe do jornal Deutsche Presse. Com medo da guerra, que já era previsível, providenciou em 1937 um visto para o Brasil:
“Quando recebi uma proposta de uma firma de Linz/Áustria, para procurar possibilidades para a transferência da firma para a América do Sul, dispus-me a viajar. Brinquei de despetalar uma flor “Hitler vem - não vem – ele vem” – e aí eu entro pelo cano. Intuitivamente eu tinha absoluta certeza de que ele viria.”
Com a carta de recomendação de um cardeal, ele obteve facilmente um visto para o Brasil onde já morava um irmão mais jovem de sua mulher.
“Ninguém tinha pressa de vir ao Brasil. Os emigrantes ainda estavam instalados em volta da Alemanha, aguardando.”
O embaixador brasileiro em Praga deu-lhe uma carta de recomendação para Herbert Moses, então presidente da Associação Brasileira de Imprensa. Lustig-Prean e sua esposa embarcaram em 1937 no navio Augustus e chegaram ao porto de Santos provavelmente em seis ou oito semanas.
Inicialmente, Lustig-Prean foi redator da revista católica St. Michaels Bote, mas depois de algum tempo, quando notou que os círculos católicos não pretendiam assumir o combate a Hitler na revista, ele se demitiu. Como outros exilados conhecidos e desconhecidos, Lustig-Prean montou uma gráfica que foi à falência. Sua mulher Lotte conseguia ocasionalmente trabalho em emissoras de rádio, cantando canções austríacas. Além disso alugavam quartos em sua casa de São Paulo. No campo teatral, Lustig-Prean se deparou com o mesmo deserto ao qual Willy Keller se refere, situação que descreveu detalhadamente em sua autobiografia no capítulo denominado pertinentemente de “Die Leute, sie nennen es Theater” ("E esse pessoal chama isso de teatro").
O livro Mil destinos da Europa publicado no Brasil, tem o objetivo evidente de fornecer ao público-leitor brasileiro um quadro das condições européias antes da época de Hitler. Lustig-Prean visa também demonstrar, por meio de pequenas crônicas e de entrevistas com personalidades conhecidas intercaladas no texto, que a cultura alemã não podia ser equiparada aos crimes de Hitler, e que personalidades importantes no âmbito cultural não só tinham dado as costas à Áustria e à Alemanha, mas que tinham também declarado o combate ao nazismo como seu objetivo primordial. Diante de uma opinião pública hostil aos alemães esse livro pretendia esclarecer e mostrar a verdade.
“Compreendemos perfeitamente a desconfiança dos nossos amigos brasileiros. Eles não podem estabelecer, de pronto, uma diferença entre alemães antifascistas e os nacional-socialistas, o que para muitos de nós seria agradável. A verdade é que existem milhões de alemães antifascistas. A porcentagem de homens que Hitler assassinou e martirizou é muito grande na Alemanha como fora dela. (…) Assim como não se pode aceitar como “lutador” qualquer alemão, pelo fato de ter emigrado, não se pode também laçar a pecha de hitlerista aos que foram obrigados a ficar na Alemanha ou em outras nações nazi-fascistas.”
Em 1948 Lustig-Prean e sua mulher voltaram à Áustria e retomaram suas antigas profissões.


Fonte: Izabela Maria Furtado Kestler, Exílio e Literatura, São Paulo: Edusp, 2003.